sexta-feira, novembro 17, 2006

Sexta feira


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Vá.... depacha-te, não o deixes ulltrapassar. Buzina.... idiota! Vá, despacha-te que o tempo não para.... esta chuva que enbarrila o transito da marginal não sabe da minha agenda.... vá despacha-te que tenho cabeleireiro às nove, seminário as onze e jantar às oito... vá despacha-te que pelo meio dou pareceres, faço despachos e consultas.... anda, não me atrases...


O rio corre ao meu lado e eu aqui, a ver a chuva a bater no vidro, protegida na concha.... Ai quem me dera ser gaivota, sem trânsito, sem concha, livre a planar no rio contra a chuva e a favor do vento.... debicando no rochedo olhando para a margem, sem perceber as agendas, jantares, seminários, despachos...


Vá despacha-te... que abano a cabeça deixando para tràs os sonhos impossiveis, encaro a vida com a crueza que não quero.... vá, despacha-te que hoje quero colo! hoje não quero crescer.... hoje não quero ser a esfinge guardiã do meu tesouro... vá despacha-te.... por uma vez despacha-te, neste dia em que a razão me perdeu, e dou a mão ao caminho...
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"fogo"

quinta-feira, novembro 16, 2006

Azul

big ben

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O relógio da Câmara bateu as seis. o tempo corrre... sincronizado com o ponteiro que desliza relogio abaixo. Compassado com a gravidade num despredimento que acompanha o designio dos sonhos. dos meus. para onde me levas?

Onde estàs? do meio do deserto, onde a noite nunca cai? nas nuvens dos sentidos? no precipicio da razão?bajulado pela corte que te acompanha?

Queria-te aqui! pertinho, onde te pudesse ler nas meninas dos olhos, acompanhar de longe os passos largos que te evolam para um longe tão perto!

Queria-te aqui pertinho, onde nos aproximamos na simultaneinade de tangentes que a matemática não explica, que a razão complica, que o coração pressente!

Queria-te aqui pertinho na cumplicidade do descohecido, com a tua luz que enebria o meu azul escuro de céu.

E todo o tempo que corre, me escorre e sorve para ti! para a imensidão de mar, chuva, tufão, tempestade, areia e azul.
"Fogo"

quarta-feira, novembro 15, 2006

PEÇO-TE

match point
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Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade
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"Terra"

PRESENTE



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Podia dizer-te tantas coisas, meu amor. As histórias fluiriam céleres da nossa própria história e realidade. Podia dizer que te amo e que a cegueria de que sou vitima, fulmina de forma quase irremediável a minha tentação pelo raciocinio. Podia dizer-te que, apesar de longe, te guardo aqui num pedaço de mim, lamentavelmente, invisível aos olhos e, provavelmente, ao coração...dos outros. Podia, de uma forma mais ou menos sofisticada, descrever os elementos que compõem o teu corpo e sentir e transmiti-los com uma caneta de pena molhada no sangue da minha saudade. Os teus olhos verdes que apesar de apelativos, marcam uma certa distância aristocrática. As covinhas simpáticas, a boca, as mãos, que tanto queria servissem para me aprisionar em ti. Sei lá queria e podia descrever todo o teu corpo que desconheço apenas na realidade. Podia dizer que, a cada dia que passa, gostaria de roubar um pouco mais do teu tempo da tua história...fazer uma história momentaneamente - que nao provisoriamente - nossa. Poderia escrever muito mais, posso vir a contar-te tudo aquilo que os sonhos me venham a permitir, mas hoje, hoje mereces muito mais...e por isso dou-te algo para o que me faltou génio mas, seguramente, com muito mais sentimento que o autor:



"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio."

Alberto Caeiro

"Terra"

ARREBATAMENTO


moulin rouge

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"O gelo é frio e as rosas sao vermelhas. Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre." - Haruki Murakami, in "Sputnik meu amor"


"Terra"



Eugénio

"Levar-te à boca, beber a água mais funda do teu ser

- se a luz é tanta, como se pode morrer?"


Eugénio de Andrade

terça-feira, novembro 14, 2006

Postais


hum.... posso mandar postais de casa? Posso mandar postais da minha terra.... como se estivesse de mochila às costas num qualquer pico de montanha ou paisagem de mar? Numa cosmopolita cidade da europa ou numa ilha o meio do oceano?


Posso mandar saudades enquanto tomo o pequeno almoço no Café Progresso de sempre? Enquanto desespero no mesmo trilho da VCI, ouvindo a mesma radio?


Posso mandar um beijinho grande, maior que enorme, enquanto almoço na mesa do fundo do restaurante da frente?


Posso dizer que me fazes falta, sentada na cadeira de todos os dias, em frente aos despachos eminentes?


Posso sentir-me estrangeira na minha cidade?
Posso?
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"fogo"


Le fabuleux destin d Amélie Poulain

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Que noite fria.... não me deixaste dormir solidão! Entrecotada com o coaxar do lago, a insonia tomou conta da noite! A musica que me fez companhia relembrou Inês Pedrosa "Trago-te no riso enterrado, nas lágrimas que me lançaste, escadas de incêndio para a sabedoria da felicidade, na pele escaldada pelo brilho da noite, depois do mar."

Queria-te sem os obstàculos que me imponho, os purismos que me agilizam a moral no noante dos principios.

Arremessei-me para a varanda virada ao Parque, enroscada na manta do sofá de chavena de chá na mão... em enlevos cadenciados de Nina Simone e olhei para as estrelas.

De olhos fechados, deixei o frio da noite encarcerar a angustia do não saber. Recordei-me no jardim de casa aos 4 anos, pequena e agarrada à boneca de trapos (que arrastava para todo o lado).... fugitiva da hora de deitar, ginasta em trepar a janelas, deitada na relva a ver estas mesmas estrelas... porque estavam tão longe? O que se vê de lá de cima? Será que conseguem ver o futuro? Tomam chá com os deuses? Determinam as marés? São filhas da Lua? Porque fogem quando vem o Sol? Porque não me acompanham quando posso brincar com estes pequenos pontos de luz na manta remendada que é o céu? Porque são apanágio dos adultos?

O sol rompeu uma aurora enternecida pelo nevoeiro... olá. bom dia.

A TUA VOZ

match point

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Depois das aventuras indias - dificilmente incluídas em algum pacote turistico - volto a ti. Volto ao santuário de onde nunca saí. Sou um homem de excessos, de rebentar os limites do politicamente correcto...mas só com aqueles que me não conhecem. Foi muito engraçado com Sasha...nao fazia a mínima ideia quem eu era. Viu-me a essência...azar o dela. Esta escrita arrasa-me e esgota-me porque é a ti que eu quero. Circunstâncias, momentos, mulheres...nada de mais normal. O diferente é a minha necessidade de voltar à escrita, de voltar a ti....à necessidade de te falar....e tu que não me falas. Quero ouvir-te e tu preferes falar com ele...com quem a história já ajustou as contas. Adorava que tivesses a ousadia de me falar. É dificil...para mim. O tempo ocupado...a bajulação de quem quer tornar os meus dias perfeitos...coitados. Quero-te a ti e à tua voz. Mudo só de pressentir um "Olá" teu. Deixo para trás tudo o resto...o deserto...as vinhas...o vinho...e um corpo perfeito que me pede mais. Não...é a ti que eu quero...a mais bela sinfonia de sentidos que alguma vez experimentei. Não me abandones...não me deixes partir...desesperadamente te peço ajuda. Não quero ser teu fardo, mas o teu colo...fala-me.



"Terra"

DERROTA

dolce vitta
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..cruzo-me com Sasha, aparentemente, de forma acidental. Encadeado com o seu olhar, oiço vagamente as suas palavras. "Your presentation in the morning was the best of all" - disse ela querendo provocar-me. "You know, the presentation you've heard from me was not made by me" - menti-lhe, ainda agora, sem perceber porquê. Talvez porque a razão do encantamento provinha dela e só era possível mantê-lo à sua custa...com as suas palavras, a sua boca e o seu corpo. Eu nao me interessava...era ela. Nao resisti. Fugi dos meus compromissos oficiais para jantar, aluguei um carro e servi de seu motorista. Andámos cento e cinquenta quilómetros, subimos montes, montanhas...perguntei-lhe se queria chegar às estrelas...respondeu-me que a sua companhia - a das estrelas - a fazia mais próxima das divindades. Sorri. Pediu-me que parasse. Saiu do carro e dirigiu-se a um lugar muito próximo de um precipicio. Fiquei bloqueado...as résteas de luz deixadas pelo sol - a contra-luz - desenhavam-lhe uma silhueta perfeita. Pediu-me para colocar um CD trazido previamente, para o efeito (soube depois). Enquanto tirava a circunferência musical do tablier do carro e o colocava no leitor, ela despiu, elegantemente, o seu vestido com motivos florais, vagamente hippie. "Girl you'll be a woman soon.." - Urge Overkill abria as hostilidades que viriam a servir de ritual iniciático para uma experiência, diria que, psicadélica. Dois corpos no tecto do mundo, entregues à natureza...com neve, sol, lua e...estrelas...chamou-me...derrotou-me. Nao venceu, contudo. Eu é que levei K.O. principalmente quanto pressenti os primeiros acordes de "Creep", precedidos da voz divinal de Damien Rice. Perdi...e hoje tenho de esquecer-te.





"Terrra"

segunda-feira, novembro 13, 2006

GLOBALIZAÇÃO


O seu nome é Sasha. Francesa, Parisiense, de origem, vive há anos na África do Sul. Ar "blazé" ancorado numa auto-confianca que desconheço ser verdadeira. Tem um ar traquinas, não obedece ao padrao normalizado de beleza actual. O cabelo aloirado, em formato pouco penteado, encaracolado o quanto baste estabelece uma dialética muito convincente com a cor verde água dos olhos. Já a boca carnuda, liga muito bem com a com a cor da pele tisnada pelo sol. Ontem bebemos um copo numa "terraza" algures na América do Sul, entre a vinha e o deserto. Com trinta e cinco graus. Pedimos que nos trouxessem uma garrafa para a sombra. Sentámo-nos informalmente por debaixo do chaparro cá do sítio. Ela era a essência, eu o acessório, a luz e eu a sombra, ela o vinho e eu o copo. Disse-me que conhecia a cidade mais próxima, que tinha uma "great night", que seria a minha cicerone. Nao..disse-lhe que nao...por nada de especial. Com ela, naquele momento, nada mais me interessava. "The light that blinds my eyes, shines from you." - cantava o Iggy Pop. Nao nos veremos mais.


"Terra"

domingo, novembro 12, 2006

UN REGALO PARA MI AMOR




...que no se llama Yolanda!

"...Cuando te vi sabía que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores De amores Eternamente de amores

Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
YolandaYolanda Eternamente Yolanda
Yolanda Eternamente Yolanda Eternamente Yolanda"


Yolanda, de Pablo Milanés
"Terra"

Momento



Sliding doors

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"A vida não é a preto e branco", ouvia atentamente na esplanada da TAVI. Respirou fundo e olhou o mar. perdeu os seus olhos na imensidão do azul, no planar das gaivotas, no rebentar das ondas. A conversa não ficou por aí...mas nada mais ouviu, senão o indiferenciado ronronar das palavras a que respondia com esgares, com sons!

Folheava ainda o caderno de economia do Expressso, procurando alienação na realidade mundial, quando,

"viste o Sliding doors? "

"vi... acho que sim, porquê?"

"Achas que a Gwyneth optou? ou optaram por ela? Forças superiores?"

Calou-se, respondeu uma qualquer frivolidade, que fez soltar a correspondente gargalhada. Baixou os olhos e respondeu baixinho, para si.... que sabia que as circunstancias são variàveis, que em nada se dominam, mas a opção é sempre do actor! Tanto quando se recordava no filme, nenhum determinismo escolheu. Como na vida nenhum determinismo escolhe... a vida não é a preto e branco, mas a mais colorida tela.

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"Vamos almoçar?"

"Vamos lá... que horas são?"

"Fogo"

A IMPORTÂNCIA DA HORA

closer
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É muito tarde. Não sei mesmo que horas são. Não quero saber. Basta-me o conforto dos meus sentidos que fazem guarda de honra à beleza do teu sono descansado. Pergunto-me se gostaria de partilhar contigo este momento, roubá-lo a mim e faze-lo nosso...nao sei...nao sei sequer o que sei. Gostava de ter o teu calor fundido com a frescura dos "nossos peixes verdes". Oiço Piazzola, bebo liomoncello e observo mulheres virtualmente perfeitas. E, sobretudo, oiço Piazzola.