sábado, janeiro 20, 2007
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Nostalgia de um tempo sem nuvens
...na marginal do Douro, com uma cristalina luz matinal reflectida no espelho que está o rio, preparo-me para mais um dia de trabalho. Dou por mim a trautear a mítica música de Alan Parsons Project, "Eye in the Sky". Um som marcadamente eighties. Early eighties, diria. Tempo, para mim, de enfrentar o mundo de peito aberto, sem defesas ou medos; tempo de cerdulidade nos outros e tempo de fé na ausência de razão do desdobramento de uma personalidade ou da sua duplicação, como quiserem. Tempo de viver a vida pela vida, tempo de sol e de esplanadas, tempo da vertigem e da certeza da imortalidade. Tempo, em suma, de excessos...tempo do meu primeiro desgosto de amor responsável, qual despertador, pela minha incursão pelos caminhos d(um)a nova realidade. Ao relembrar a música - ouvindo-a - e fazendo todo este "flashback" concluo que, apesar, da enorme alteração de circunstâncias, mantenho intacta a minha (Nossa?) inata capacidade de sonhar, de me iludir e de simular voos rasantes à realidade...na exacta medida em que mantenho, também, intacta a minha determinação em enfrentar o quotidiano menos fácil, em traçar a rota e o destino necessários a uma existência tranquila e, claro, na medida em que consigo ser surpreendido pela desilusão.
"...I am the eye in the sky
Looking at you
I can read your mind I am the maker of rules
Dealing with fools
I can cheat you blind..."
"Terra"
quarta-feira, janeiro 17, 2007
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
............................
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão
"Fogo"
Sonho
«... Mas todo e qualquer sonho tem o seu fim, o seu término, quanto mais não seja quando se acorda, quando se desperta para a realidade que nos envolve e em que estamos inseridos...
Já muito por aqui sonhei e fiz sonhar, chegou o meu tempo de acordar. Há um mundo que espera para ser vivido.Por ora, deixo o sonho que aqui encontrei.
Não desisto dele.»
"Fogo"
terça-feira, janeiro 16, 2007
Hino à preguiça
Para além de elogiarmos tudo o que não é nosso (apenas e tão só por esse facto), apoucando-nos tantas vezes, outra das nossas mais marcantes caracteristicas é a apologia da mediocridade. O mérito de uma carreira de sucesso, a constatação de um enorme talento, a excelência da qualidade profissional e, até, a excelência dos atributos físicos de uma qualquer alma revestida por um corpinho "Danone" que nos levem a abrir a boca de espanto, tudo isto, nunca é tão simples como parece e, sobretudo, nunca é tão transparente quanto aos ingénuos olhos do escriba possa parecer. Não. A carreira de sucesso foi feita à custa de muita trapacisse, o talento - já se sabe - é algo de extraordinariamente subjectivo - lá está, estamos no país de cada cabeça sua sentença - a excelência da qualidade profissional foi feita à custa do dinheiro do pai que o "pôs" na Universidade de Caímbras ou Cambris ou uma "cena" do género lá na Inglaterra - assim também eu - e quanto à qualidade dessas esculturas andantes, estamos conversados. É dos lifts, das plásticas e do "élt clube"...pudera. Não vale a pena, somos assim. Tudo isto seria divertido se o essencial não fosse, de facto, dramático. E o essencial é que esta característica estrutural do ser português é utilizada, na maioria das vezes, como travão à mudança, como obstáculo à melhoria, como incentivo à manutenção do status quo. É aquilo a que eu chamo um hino à preguiça.
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"Terra"
Humilhação
...é o que sinto cada vez que saio do consultório da minha dentista. Meia hora - quando não é mais tempo - de absoluta humilhação. Boca aberta, músculos hirtos, comunicação por gemidos, grunhidos ou outra palavra qualquer terminada em idos e, sobretudo, alguém com a agilidade e destreza típicas de um calceteiro a invadir território privado e sensível com a delicadeza das tropas de Soult nas invasões francesas. Valham-me os olhos lindos...da minha eterna dentista.
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"Terra"
segunda-feira, janeiro 15, 2007
Sai um cimbalino!..
O café - a bica, o expresso ou o tão nosso cimbalino - é muito mais do que o resultado da infusão de àgua a ferver na, talvez, mais famosa e universal de todas as especiarias. Para nós portugueses, quero eu dizer. Para além de rematar homéricos repastos - "eram 8 cafés e a conta, fachavor" - quantos de nós não começaram uma aproximação por um tímido cafezinho...a seguir ao almoço, claro (quando o ímpeto nos empurrava para ir muito mais além); ou separações, mais ou menos prolongadas - "acho que precisamos de falar, diz ela ao telefone. Tomamos café logo à noite?". Quando esta expressão interrogativa nos aparece é mais final e definitiva do que uma sentença de prisão perpétua. Mas, para além do café estar intimamente ligado a começos, recomeços e fins de "relacionamentos mais ou menos amorosos", esta especiaria alarga os horizontes da nossa história, lembra-nos o que fomos, o que deixámos, o que ensinámos e, claro, o que perdemos...o balanço é, manifestamente, positivo. Cada golo de café deve saber-nos a África, a Ásia ou a Brasil (esse continente português), deve encher-nos de orgulho e deve dar-nos força para "redescobrirmos" esses horizontes, povos e oportunidades.
"Terra"
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