...na marginal do Douro, com uma cristalina luz matinal reflectida no espelho que está o rio, preparo-me para mais um dia de trabalho. Dou por mim a trautear a mítica música de Alan Parsons Project, "Eye in the Sky". Um som marcadamente eighties. Early eighties, diria. Tempo, para mim, de enfrentar o mundo de peito aberto, sem defesas ou medos; tempo de cerdulidade nos outros e tempo de fé na ausência de razão do desdobramento de uma personalidade ou da sua duplicação, como quiserem. Tempo de viver a vida pela vida, tempo de sol e de esplanadas, tempo da vertigem e da certeza da imortalidade. Tempo, em suma, de excessos...tempo do meu primeiro desgosto de amor responsável, qual despertador, pela minha incursão pelos caminhos d(um)a nova realidade. Ao relembrar a música - ouvindo-a - e fazendo todo este "flashback" concluo que, apesar, da enorme alteração de circunstâncias, mantenho intacta a minha (Nossa?) inata capacidade de sonhar, de me iludir e de simular voos rasantes à realidade...na exacta medida em que mantenho, também, intacta a minha determinação em enfrentar o quotidiano menos fácil, em traçar a rota e o destino necessários a uma existência tranquila e, claro, na medida em que consigo ser surpreendido pela desilusão.
"...I am the eye in the sky
Looking at you
I can read your mind I am the maker of rules
Dealing with fools
I can cheat you blind..."
"Terra"
2 comentários:
Nossa.
a tangência do indefinivel com a realidade entronca no equlibrio moral e castração humana.
as recordações... trazidas por sons e musicas, efectivamente tocam no que de mais nuclear nos definem.... "I can cheat you blind"
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