terça-feira, novembro 14, 2006

DERROTA

dolce vitta
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..cruzo-me com Sasha, aparentemente, de forma acidental. Encadeado com o seu olhar, oiço vagamente as suas palavras. "Your presentation in the morning was the best of all" - disse ela querendo provocar-me. "You know, the presentation you've heard from me was not made by me" - menti-lhe, ainda agora, sem perceber porquê. Talvez porque a razão do encantamento provinha dela e só era possível mantê-lo à sua custa...com as suas palavras, a sua boca e o seu corpo. Eu nao me interessava...era ela. Nao resisti. Fugi dos meus compromissos oficiais para jantar, aluguei um carro e servi de seu motorista. Andámos cento e cinquenta quilómetros, subimos montes, montanhas...perguntei-lhe se queria chegar às estrelas...respondeu-me que a sua companhia - a das estrelas - a fazia mais próxima das divindades. Sorri. Pediu-me que parasse. Saiu do carro e dirigiu-se a um lugar muito próximo de um precipicio. Fiquei bloqueado...as résteas de luz deixadas pelo sol - a contra-luz - desenhavam-lhe uma silhueta perfeita. Pediu-me para colocar um CD trazido previamente, para o efeito (soube depois). Enquanto tirava a circunferência musical do tablier do carro e o colocava no leitor, ela despiu, elegantemente, o seu vestido com motivos florais, vagamente hippie. "Girl you'll be a woman soon.." - Urge Overkill abria as hostilidades que viriam a servir de ritual iniciático para uma experiência, diria que, psicadélica. Dois corpos no tecto do mundo, entregues à natureza...com neve, sol, lua e...estrelas...chamou-me...derrotou-me. Nao venceu, contudo. Eu é que levei K.O. principalmente quanto pressenti os primeiros acordes de "Creep", precedidos da voz divinal de Damien Rice. Perdi...e hoje tenho de esquecer-te.





"Terrra"

segunda-feira, novembro 13, 2006

GLOBALIZAÇÃO


O seu nome é Sasha. Francesa, Parisiense, de origem, vive há anos na África do Sul. Ar "blazé" ancorado numa auto-confianca que desconheço ser verdadeira. Tem um ar traquinas, não obedece ao padrao normalizado de beleza actual. O cabelo aloirado, em formato pouco penteado, encaracolado o quanto baste estabelece uma dialética muito convincente com a cor verde água dos olhos. Já a boca carnuda, liga muito bem com a com a cor da pele tisnada pelo sol. Ontem bebemos um copo numa "terraza" algures na América do Sul, entre a vinha e o deserto. Com trinta e cinco graus. Pedimos que nos trouxessem uma garrafa para a sombra. Sentámo-nos informalmente por debaixo do chaparro cá do sítio. Ela era a essência, eu o acessório, a luz e eu a sombra, ela o vinho e eu o copo. Disse-me que conhecia a cidade mais próxima, que tinha uma "great night", que seria a minha cicerone. Nao..disse-lhe que nao...por nada de especial. Com ela, naquele momento, nada mais me interessava. "The light that blinds my eyes, shines from you." - cantava o Iggy Pop. Nao nos veremos mais.


"Terra"

domingo, novembro 12, 2006

UN REGALO PARA MI AMOR




...que no se llama Yolanda!

"...Cuando te vi sabía que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores De amores Eternamente de amores

Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
YolandaYolanda Eternamente Yolanda
Yolanda Eternamente Yolanda Eternamente Yolanda"


Yolanda, de Pablo Milanés
"Terra"

Momento



Sliding doors

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"A vida não é a preto e branco", ouvia atentamente na esplanada da TAVI. Respirou fundo e olhou o mar. perdeu os seus olhos na imensidão do azul, no planar das gaivotas, no rebentar das ondas. A conversa não ficou por aí...mas nada mais ouviu, senão o indiferenciado ronronar das palavras a que respondia com esgares, com sons!

Folheava ainda o caderno de economia do Expressso, procurando alienação na realidade mundial, quando,

"viste o Sliding doors? "

"vi... acho que sim, porquê?"

"Achas que a Gwyneth optou? ou optaram por ela? Forças superiores?"

Calou-se, respondeu uma qualquer frivolidade, que fez soltar a correspondente gargalhada. Baixou os olhos e respondeu baixinho, para si.... que sabia que as circunstancias são variàveis, que em nada se dominam, mas a opção é sempre do actor! Tanto quando se recordava no filme, nenhum determinismo escolheu. Como na vida nenhum determinismo escolhe... a vida não é a preto e branco, mas a mais colorida tela.

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"Vamos almoçar?"

"Vamos lá... que horas são?"

"Fogo"

A IMPORTÂNCIA DA HORA

closer
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É muito tarde. Não sei mesmo que horas são. Não quero saber. Basta-me o conforto dos meus sentidos que fazem guarda de honra à beleza do teu sono descansado. Pergunto-me se gostaria de partilhar contigo este momento, roubá-lo a mim e faze-lo nosso...nao sei...nao sei sequer o que sei. Gostava de ter o teu calor fundido com a frescura dos "nossos peixes verdes". Oiço Piazzola, bebo liomoncello e observo mulheres virtualmente perfeitas. E, sobretudo, oiço Piazzola.