quarta-feira, janeiro 31, 2007

Disco lights...revisited

Confesso que o que me encorajou a escrever este post foi ter ouvido uns acordes de uma música que me recolocou algures no final da década de 80. "Cadillac Solitario", dos Loquillo & Trogloditas, uma banda espanhola que, provavelmente, não dirá nada a ninguém, nos dias de hoje.

Lembro-me de ter começado na Urraca - D. Urraca, se não se importa, dirão os mais formalistas - ao som do hit máximo dos Waterbooys, The Whole of the moon. Sim, foi há muito tempo...faz agora vinte anos. Passei pelo Batô - onde se ouvia e ouve a melhor música da Peninsula Ibérica - onde ainda bebo um copo, à paisana, só para ouvir, só para me lembrar...só para me sentir vivo. Echo & the Bunnymen, BAD, Lords of New Church, The Smiths, The Cure, DAD, PIL, Iggy Pop, Lou Reed e tantos outros...tudo isto se consegue, ainda, ouvir no Batô.

Gastei muitas das minhas quartas-feiras à noite no Swing, onde dava para se ouvir de tudo um pouco...sem grande critério. Mas, no Swing, era mais importante o teatro, a componente cénica de tudo o que se desenrolava debaixo do nosso nariz - literalmente e não só - e de tudo aquilo que se podia adivinhar. Anos loucos, ainda na ressaca da revolução.

Sextas e Sábados - caso não houvesse festas à quinta - não perdoava a mim mesmo uma ausência no Twins...em abono da verdade acho que nunca corri o risco de chumbar por faltas. Sim, aos olhos de hoje era uma discoteca um bocado tótó e de betinhos, ou lá comé k se diz agora. A música comercial dava sempre motivo para desconversar ou, no rigor dos princípios, para iniciar uma desconversação...com elas, claro, as meninas mais giras do Porto. Assisti a quatro remodelações do Twins - Passerelle inclusive - e guardo muito perto de mim o seu contributo para a fase mais estratosferico-psicadélico-fantástica da minha vida.

Depois, houve, ainda, o Foz Club, situado num palacete na Avenida Montevideu - onde há pouco tempo se instalou uma clínica oftalmológica - e as suas noites, simultaneamente cool & trendy e de algum formalismo. A certa altura o Foz Club abriu uma ala para gente mais nova com música mais radical - foi lá que ouvi as primeiras músicas dos Iron Maiden, Aerosmith, Metallica e Guns n'roses. Chamava-se, precisamente, "Radical". Belas noites...de verão...quentes...perto, perigosamente, perto do mar e da lua nele reflectida.

Mas, e voltando ao princípio, ouve uma altura em que saía a correr do Twins, não para chegar às palmeiras, ainda com lugar para estacionar, mas para chegar a tempo de, na Indústria poder ouvir - lá por volta das quatro da manhã em diante - a música portuguesa que lá se ouvia: Rádio Macau, Xutos, GNR, Radar Khadafi - "No fundo da avenida, bebendo um capilé, 40º à sombra nas mesas de café", lembram-se? - Taxi, Sérgio Godinho, Jorge Palma - "Portugal, Portugal" - e tantos outros. Era o auge da noite, numa altura em que nada era premeditado, numa altura em que as companhias se formavam como que por movimentos magnéticos, numa altura em que nada procurávamos e colocávamos na vida e à disposição de todos, tudo o que de melhor e mais puro tinhamos, toda a nossa energia e alegria de viver.

Depois, bom, depois assisti já numa outra dimensão ao nascimento do Via Rápida, do Buffalo's, do Estado Novo - sim, já sei, lá em cima esqueci-me de mencionar o Cais 447, mas isso dá para um outro post...ou mais - do "Nem que chova"...e de todos os outros da Zona Industrial do Porto.

Hoje, se me perguntarem "onde é que é a ida" - frase ritual com que iniciávamos a noite - não faço a mínima ideia quanto à resposta a dar.

Sinais dos tempos...dos meus, é claro.

"Terra"

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