quarta-feira, novembro 08, 2006

Alucinação



"ultima chamada para voo 251" No gélido corredor do Sá Carneiro olhou pelo vidro.. pela ultima vez encontrou o seu olhar com as luzes da pista... vermelho, verde, amarelo... apertou o bilhete na mão transpirada e fechou os olhos. Respirou fundo enebriada ainda pelo cheiro da saudade. Relembrou o rio, o coado da luz de Outubro, as gaivotas que planavam na marginal, das margaridas que nessa mesma tarde escolheu, colheu, e docemente amarrou. Brancas...sempre brancas.
Maquinalmente dirigiu-se para a porta de embarque. No mp3 soava Stanley Clark. Um almoço... se ele tivesse aceite o convite provavelmente estaria agora em terra firme.... e não naquele autocarro cheio de mochilas.
"Boa noite" Fila 35 lugar F" janela, janela janela... esperava enquanto percorria as caras e os numeros do Boing. Enfim... janela. Arrumou as tralhas no compartimento e apertou o cinto. o ar condiciondado começou a trabalhar... como enjoava com aquele cheiro. esperava-a madrid e depois, muitas horas sob o Oceano.
Teria recebido as flores? Perceberia? O medo, a informação velada? A cidade despedia-se na sua insignificancia. transcendia-se pela fuga... todas as luzes da cidade que acolheu. E o Rio... esse rio para onde deveria estar a olhar de um primeiro andar, e não sob as nuvens. Onde se aninharia na cumplicidade e não naquela manta... e chocolate... teria chocolate certamente, maravilha das maravilhas.. fondant de chocolate?
Fechou os olhos a aconchegou-se na musica... Jorge Palma acariciou-lhe o espirito. Tinha fugido... só agora se apercebera. Justificou-se racionalmente... mas tinha medo. De si. Do que desconhecia em si.
Sentia agora o sono. A corrida para o avião não a tinha ainda deixado render-se ao cansaço que sentia sempre depois de chorar! Enquanto escreveu o bilhete, e acariciava as delicadas petalas... desprendia as palavras, em cadência com as lagrimas que caiam. Rolavam pela face... terminando na esperança do reencontro.
Agora, por cima do Atlantico ... lembrou-se que se tinha esquecido... de trazer o coração! Ficara na marginal do douro. Esquecido? não! Entregue.
"Fogo"

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