segunda-feira, junho 04, 2007

...quase



(...)

É um nao querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.


É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.


(...)

Luiz Vaz de Camões

"Fogo"

Ora...




Aquela triste e leda madrugada,

cheia toda de magoa e de piedade,

enquanto houver no mundo saudade

quero que seja sempre celebrada.


Ela so, quando amena e marchetada saia,

dando ao mundo claridade,

viu apartar-se d'uma outra vontade,

que nunca podera ver-se apartada.


Ela so viu as lagrimas em fio

que d'uns e d'outros olhos derivadas

s'acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas

que puderam tornar o fogo frio,

e dar descanso as almas condenadas.


Luiz Vaz de Camoes


"Fogo"

sexta-feira, junho 01, 2007

Velázquez

...e as meninas.

"Terra"

...quase

Prometi a mim mesmo. É hoje. Hoje regresso a esta casa, à escrita, obrigo-me a olhar para mim...a parar, a deixar de fingir.
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As esquinas do destino pregam-nos partidas, oferecem-nos surpresas e, cruéis, não deixam de aproveitar o momento em que, com uma força superior, nos demonstram a nossa falibilidade. Levo a vida como um batel que enfrenta a onda...uma e outra e outra, ainda...ao fim do dia estou mais forte, embora esse acréscimo de força esteja cativo do cansaço.
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É esta a injustiça.
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Não sei se me faço compreender. Também de pouco importa. A inteligibilidade das palavras que expulso, em batidas ritmadas, é veneno puro para a almas sensíveis.
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Hoje usava bem aquela espreguiçadeira que me deste para as minhas leituras de verão. Poisava-a num qualquer deserto andino e deixava-me secar. Como um cigarro que não fumo, um whiskey que não bebo ou como um livro cuja mensagem não decifro.
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...como as memórias que desisti de viver.
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"Terra"

quinta-feira, maio 31, 2007