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O facto é que estava disponível, quis conhecer-te, quis - num exercício de uma certa raridade - tocar-te. Abanar-te. Mostrar-te o mundo que habita em mim, muito mais do que o mundo em que habito, se bem que este último também não nos seja, propriamente, comum. O livro está aberto e a história vai correndo, ao sabor de parágrafos mais ou menos metaforizados, ao ritmo que a distância do desejo vai impondo...em cada dia...em cada momento...em cada partilha. A noção de que existe um mundo, um outro mundo para além do vivido na realidade...uma outra realidade...que respira o sonho e vive da ilusão. Um mundo à espera de tempo e de espaço. O tempo e o espaço.
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Levanto-me e amarro os joelhos com os braços. Ao longe, um barco à vela dança um furioso tango com o vento. Eu nem que soubesse podia fazê-lo. Faltas-me tu. Pego no livro - aberto - e preparo-o para receber mais umas linhas de alma, de sangue e de vida, como dizia o poema de Florbela Espanca. Abro as páginas com cuidado e aprecio-lhes a textura que me arrepia - que te arrepia - buscando o lápis que verterá o sumo do meu amor. Sempre gostei de poder reescrever a minha história. Por isso o lápis. Procuro-o nos bolsos vazios e choro pela sua falta. Ou será pela tua? Deixei-to na mão, lembro-me bem. Acolheste-o e guardaste-o...numa caixinha de música que costumavas guardar na primeira gaveta da mesinha de cabeceira ou, em noites de vendaval, mesmo por debaixo da almofada a que te abraçavas. Prometeste cravá-lo nas páginas da história que fossemos construindo. Prometeste ajudar-me a construí-la.
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Faltas-me agora...
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"Terra"
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