terça-feira, dezembro 12, 2006

Solidão assistida

Vivemos num mundo que não tem tempo para pensar. Os mecanismos não podem parar, o modelo engenhosamente construído em volta de sofisticados instrumentos auto-suficientes fazem de nós meros assistentes ou, com algum esforço, mãos numa linha de montagem, prontos a substituir o parafuso mas incapazes de nos questionarmos acerca da sua utilidade.

Cada um de nós se sente capaz de dispensar o outro. A alteridade, outrora fonte de conhecimento, progresso e humanização do relacionamento entre iguais, torna-se dispensável, à medida que, esquecendo o essencial, nos isolamos na rotina. E na rotina todos somos iguais ou, pelo menos, podemos sê-lo. A singularidade do indivíduo é, cada vez mais esbatida, deixando ao acessório a terrível ilusão de uma standartização democrática mas falaciosa.

A riqueza da singularidade do eu é substituída pela falsa presunção de uma terrível igualitarização que esquece e despreza as diferenças.

O outro, fundamental na formação do eu, por ser cada vez mais igual, é desprezado, sobressaindo deste facto uma hipervalorização individualista que se julga capaz de definir axiologicamente uma existência humana. O relativismo; que nada mais significa do que o desespero de uma solidão cada vez mais acompanhada.
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"Terra"

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