quarta-feira, novembro 15, 2006

PRESENTE



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Podia dizer-te tantas coisas, meu amor. As histórias fluiriam céleres da nossa própria história e realidade. Podia dizer que te amo e que a cegueria de que sou vitima, fulmina de forma quase irremediável a minha tentação pelo raciocinio. Podia dizer-te que, apesar de longe, te guardo aqui num pedaço de mim, lamentavelmente, invisível aos olhos e, provavelmente, ao coração...dos outros. Podia, de uma forma mais ou menos sofisticada, descrever os elementos que compõem o teu corpo e sentir e transmiti-los com uma caneta de pena molhada no sangue da minha saudade. Os teus olhos verdes que apesar de apelativos, marcam uma certa distância aristocrática. As covinhas simpáticas, a boca, as mãos, que tanto queria servissem para me aprisionar em ti. Sei lá queria e podia descrever todo o teu corpo que desconheço apenas na realidade. Podia dizer que, a cada dia que passa, gostaria de roubar um pouco mais do teu tempo da tua história...fazer uma história momentaneamente - que nao provisoriamente - nossa. Poderia escrever muito mais, posso vir a contar-te tudo aquilo que os sonhos me venham a permitir, mas hoje, hoje mereces muito mais...e por isso dou-te algo para o que me faltou génio mas, seguramente, com muito mais sentimento que o autor:



"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio."

Alberto Caeiro

"Terra"

1 comentário:

Anónimo disse...

Desta vez(só desta vez, sem exemplo)....não foi Fernando Pessoa que o disse melhor.