quinta-feira, novembro 23, 2006

Da minha torre de Narciso


Ao sol, ao vento, à música, levanto
Esta voz que não tenho. A Deus imponho
A obrigação de me escutar o canto
E entender o que digo e o que sonho.
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A mim me desafio. Aos outros ponho
A condição de me odiarem tanto
Que não descubram nunca o que suponho
O meu secreto e decisivo encanto.
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Contra o que sou me guardo e quando oiço
Falar do que pareço, posso então
Encher o peito de desprezo e riso.
Pois só eu me conheço e só eu posso
Subir até àquela solidão
Onde me incenso, amo e realizo.
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Ary dos Santos
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"Terra"

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