quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Resignação...

...é o que, sem querer recorrer a uma análise politicamente correcta da conjuntura, se me oferece dizer acerca do olhar destes miúdos-homens.

"Terra"

Old like dust

...o velho pick-up ou, de forma mais lusitana, o gira-discos...e o prório do disco.

"Terra"

Cuba

A história - como o próprio quer - julgá-lo-á. E, ou me engano muito, ou será mais assassina que a sua dolorosa morte lenta. Será implacável e cruel.
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Não se pode amar a terra mãe com desprezo pelos irmãos conterrâneos, não se pode impôr a miséria e viver-se com fausto, não se pode, manipulando a informação, esconder e impedir a chegada de uma nova ordem mundial.
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O futuro de Cuba não está assegurado com a anunciada morte do sanguinário ditador, claro, é preciso ajudar o extraordinário povo cubano, é óbvio, mas acima de tudo torna-se imperioso muni-lo de instrumentos que tornem possível uma escolha responsável e consciente.
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E, já agora, que de "Vitória o Muerte!", o povo cubano possa passar a viver sob o lema de "Vitória y Vida!".
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"Terra"

A primária, a escola e a professora

Banho ao fim da tarde, dado por uma velha empregada velha que me ajustava o roupão e com uma palmada no rabo me despachava para a frente do televisor. Naquela altura, lembro-me de " Os 4 blindados e o seu cão" - drama relatando o final da 2ª Guerra e, mais a brincar, o "Vicking" de cujos cromos também era coleccionador. Depois, a mãe enfiava-me a comida pela boca a baixo e, acto contínuo, seguia para a sala onde esperava pelo pai. Ao ouvir a chave a entrar na porta corria para as suas pernas - só mais tarde e mais alto lhe podia chegar aos braços.
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Depois de uma ligeira descrição da longa jornada do dia, ía lavar os dentes e, de seguida: cama! Deitava-me, rezava um bocadinho (primeiro de joelhos, mais tarde deitado) e chamava pelos pais que lá iam dar-me as boas noites. Mais tarde, o pai voltava a passar por lá e, na sua eterna ternura, dava-me uma festa por cima da roupa da cama, fazendo com que esta se moldasse, confortavelmente, ao meu corpo. Nessa altura, sim, estava pronto a dormir.
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De manhã, ainda trôpego de sono, vestia-me, calçava-me sentado - o que irritava, particularmente os pais - e tomava o pequeno-almoço. Café com leite (desde muito cedo) e pão fresco com manteiga. Depois, batia a porta e seguia para a escola a pé. De pasta de couro - já batida - na mão. Ainda me lembro do cheiro da pele e do que a pasta levava. Os livros e os cadernos, claro, mas também uma bolsinha feita à mão onde colocava religiosamente, o pão com manteiga que amenizava a fomeca a meio da manhã.
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Chegado à escola, poisava a pasta na minha carteira de madeira - tal e qual a da fotografia - e corria para o campo de futebol onde dava uns "toques" antes mesmo de aula começar. Era um fanático da bola e as botas de carneira (transmontanas) com que costumava andar davam, invariavelmente, sinais de uma fadiga precoce. Depois, bom, depois eram as aulas. Ia aprendendo as coisas com uma natural curiosidade e já, então, com um espirito de contradição que hoje me caracteriza (para o bem e para o mal). Tinha muito bom feitio, o que indubitavelmente, perdi e uma tendência, diria muito saudável, para a risota. O que me custou umas dezenas de reguadas. Bem dadas na sua grande maioria, diga-se.
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E o relógio - tal qual o da fotografia - não estava nas nossas costas mas, ao invés, à nossa frente, o que dava para, de uma forma dissimulada, ir arrumando as coisas 5 minutos antes de "tocar".
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Eram a minha primária, a minha escola e a minha professora.
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Eram tempos de joelhos esmurrados, de calções de padrão escocês e de remendos nos cotovelos...e de um certo ar de rufía dono do mundo que amuava com um raspanete e que ganhava o mundo quando sentia as chaves na porta...
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...o pai a chegar.
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"Terra"

Aurora